AUDIOS
O ÁLBUM
PROJETO
REFERENCIAS
Resumo do projeto:
O projeto busca transpor para o ambiente audiovisual uma experiência de uma
mulher e uma criança ao nascer: o primeiro ano de vida de uma criança e da
transformação dessa mulher ( a proponente) em mãe. a partir de um álbum de
família físico e outros materiais de arquivo, e pesquisa teórica, o projeto de
debruçará nesta adaptação.

Projeto:
A maternidade me levou por questões profundas sobre eu mesma, minha família
e minha trajetória. durante os primeiros anos da minha filha, qualquer tempo
livre que eu tinha, eu me dedicava à feitura de um álbum de família que trata do
primeiro ano de vida dessa criança e da minha transformação em mãe. Consegui
finalizar o álbum em outubro de 2020, por meio do suporte que recebi da
residência ARIM - artistic residency in motherhood. O álbum levou quase três
anos para ser concluído e contém além de fotografias, muitos textos, colagens,
desenhos, cianotipia, bordado e foi todo produzido e encadernado por mim.
Apesar de ser um trabalho muito íntimo, de alguma forma ele transcende o limite
do pessoal e fala sobre maternidade, mulher, parto, infância, entre outros temas.
Considero o tema da maternidade uma questão tabu em nossa sociedade, e
também no ambiente das artes. Vemos a maternidade e a infância com um
distanciamento que só corrobora à romantização dessa prática e relega às
mulheres mães a total responsabilidade descabida dos cuidados. A maternidade é
um questão social e pública e precisa ser tratada como tal. Pois, o álbum trata
também sobre o trabalho sensível do mundo dos cuidados geralmente feito por
mulheres, sendo as mais afetadas pela pandemia.

Percebo que álbum, que é um objeto/livro de artista/peça única dedicada à minha
filha, não pode dessa forma alcançar outras pessoas, e gostaria que isso fosse
possível. E é justamente nesse ponto que gostaria de trabalhar neste programa
para o qual me apresento. Penso em como “transmidializar" o álbum de família.
Tenho o álbum pronto em minhas mãos, a pesquisa prática de haver me tornado
mãe e me dedicado à criação do álbum está feita. Agora gostaria de me debruçar
sobre questões mais teóricas em torno do álbum de família, algo que chamo de
performance do álbum. Fiz um vídeo stop-motion em que as páginas do álbum
podem ser vistas, entretanto ele não consegue dar conta do que ele é, falta a
materialidade. como transpor esse projeto para o audiovisual? como criar diálogo
com outras mães estando distantes fisicamente? como transpor a invisibilidade
do trabalho materno? como agregar a escrita, que é parte muito significante do
meu processo artístico para compor como álbum, que em si já trás muitas
palavras?

A proposta é reunir o material fotográfico que tenho em alta qualidade do álbum,
também vídeos do meu arquivo pessoal e a leituras de textos escritos por mim
nesse período conseguir realizar um trabalho em Audiovisual que fale
sensivelmente desse momento forte, delicado, vulnerável, intenso e visceral da
vida de uma mulher e uma criança: o nascimento de um filho e de uma mãe.


Justificativa do projeto:
Acredito muito no poder social e político desse projeto e gostaria de seguir
trabalhando nele, entretanto sinto que preciso do tipo de trocas e referências que
as residências ou programas de tutorias em artes podem aportar nesse estágio de
um projeto. Trata-se de um projeto que tenho pesquisando há muitos anos e toca
num ponto muito íntimo da minha existência, algo que gostaria de me dedicar
para melhor elaborar, e sei que vindo desse lugar tem muita potência para se
materializar em um trabalho forte e importante sobretudo para as mulheres
mães. A maternidade, a primeira infância, o álbum de família estão localizado
dentro da nosso sociedade como pertencentes à mulher e ao ambiente doméstico,
e nesse momento a mãe recém-parida perde muitas das possibilidades de
trabalhar e de se socializar. 25% das mulheres brasileiras tem depressão no
período pós parto -- consequência também da invisibilidade que sofrem. Esse
projeto visa tornar público uma questão da vida doméstica e privada. É urgente
que esses assuntos sejam discutidos de forma mais ampla, pela desromantização
do trabalho exaustivo do cuidado.


Carta de intenção:
Minha pesquisa atual cruza a maternidade com as artes visuais. Tive minha
primeira (e única) filha em 2018. Nesse momento me casei com uma pessoa de
outro país e nos mudamos para Uberlândia, pois nesse momento eu precisava ter
minha família por perto, principalmente minha mãe. Não foi fácil conciliar os
interesses pessoais, as diferenças culturais e as demandas de um bebê e a
adaptação foi complicada. Aos oito meses de Inaê, fomos de volta a Portugal.
Distante da minha cultura a minha família, me vi muito fragilizada como mulher,
migrante, mãe e puérpera. O relacionamento se tornou um terror e vivemos
momentos de profundo desamparo e violência doméstica. Após um ano lá, por
meio de um trabalho, minha filha e eu viemos ao brasil para passar 15 dias, e com
a possibilidade de trabalhar aqui (o que lá não estava sendo possível) e poder
contar uma rede de apoio efetiva e amorosa, decidi que seria melhor ficar aqui.
Isso me trouxe outros desafios como a separação, a questão financeira da conta
que não se fecha entre o ser artista e ser mãe solo (sem receber qualquer ajuda
financeira do outro responsável pela criança). A pandemia trouxe pra mim outras
possibilidades de trabalho de dentro do meu longo isolamento social:
maternidade e pandemia. Com minha filha crescendo e com a rede de apoio tão
presente que construí, tenho conseguido novamente me dedicar à minha
produção artísticas e como nunca antes, me faz muito sentido falar desse tema
tão silenciado: a maternidade.
trauma
arquivo
- relatos visuais contados com voz de mulheres

- aparecimento de objetos diversos anexos ao álbum: o album guarda os restos das famílias

- a familia, o fotógrafo/narrador coletivo.

- a fotografia revela-se apesar de qualquer leitura sistemica,

-"dar titulo a este livro da maneira mais simples e descritiva, álbum de família, foi a decisão que tomei, uma vez que quis conservar, do modo mais singelo, o mistério que por si só se nomeia.

- o álbum é arquivo, um dos mais inquietantes da vida privada.

- o álbum é fotografia, pois esta o fundamenta.

- o álbum conta histórias

- o álbum é um pedaço de nossos corpos.

- além do ponto de vista familiar, há outra qualidade grupal: alguém narra as histórias, a família, seu narrador coletivo; contudo, outro as conta, em geral a mãe, a avó, a filha mais velha, a tia, e isso as torna uma história de mulheres. dessa forma, o album não só é visto, mas especial ouvido (com vozes femininas), e isso dimensiona seu conteúdo em outro sentido corporal - o da audição - e outora outra natureza perceptiva - o ritmo e a melodia de ouvir uma história.

- ... percebi que estava expresso o mito do álbum, naquele mesmo do renascer em cada cerimônia, mas que também esatav manifesta a essência da fotografia - a morte.

- se a família está em crise, o mesmo se pode dizer do álbum. se o álbum evidencia fadiga e anacronismo, isso é consequencia das tecnologias e do comério que o reorientam, bem como do fato de seu próprio objeto, a família, não saber igualmente onde está nem pra onde vai. este livro mostrará o surgimento do novo herói familiar na fotografia: o filho, sobrevivente natural das crise, e sua própria expressão.

- o álbum de família fala de nossas origens, mas também do que queremos fazer de nossas vidas no futuro. nós somos o álbum, convertendo-se ele próprio em consciencia visual do nosso transito pelo tempo e pela vida.

- o álbum conta histórias. um fato literário.

- máscara, persona. ato teatral para quem toma a foto, quem é fotografado, mas também para aqueles que a observarão.

- sobreposição de tempos> nao estão ao mesmo tempo aquele que faz a fotografia, o outro que se coloca para ser visto e aquele que observará a foto mais tarde. nas foto, mostra-se para ver depois, numa espécie de diálogo adiado. // e cada vez que esse diálogo é aberto, é atualizado.

- o album corresponde o desejo da família de sobreviver à morte como espécie, sobrenome, categoria, enfim, como imagem. imagem. imagem.

- a função do álbum não seria mostrar algo novo, mas reiterar um rito, conservar algo que já foi visto. reiterar o exigido pela pose: a família feliz.*

* justo nesse ponto ~tensiono~

se mostro algo, deixo de mostrar outras. A família que se representa de tal forma, mas também se apaga.

- o álbum é foto apenas pela metade. a outra metade se deve a quem o coleciona e o conta.

- a originalidade da observação do álbum é que sua foto existe para ser falada.

como uma nova mãe em crise faz um álbum? feliz? (albo: marcar um dia como feliz)

dar sentido a história vivida.

álbum de família_ testemunho ou fabulação
_performance do álbum. narrativa totalmente inventada.

- "álbum que pertence à minha filha" - mentira

- caixa, album como tesouro.

- o album pode ser entendido como um tipo muito original de arquivo, sentimental sob o aspecto espontaneo; privado sob o aspecto secreto e histórico; livre sob o aspecto ritualistico; no qual retratamos as paixões familiares.




















PMIC 2023 ~~~ álbum de família

uberlândia/MG